sábado, 18 de abril de 2009

Dear Otto...

_____Agora cai uma chuva forte lá fora. Eu não penso em dormir, ou melhor, não quero. O meu hábito de estudar madrugadas a fora destruiu meu relógio biológico e as minhas noções de tempo. Sinto-me presa aos livros como um velho ao tempo. Sinto-me, por vezes, casada, infeliz e sozinha.
_____Finjo! Cada vez mais e melhor, agora não só para mim, como também para toda a gente. Por quê? Tudo parece tão insuficiente. O que sou nunca é o bastante. Persigo demais a mim e me torturo por erros vãos. “Inacreditável”, eles diriam. Pra mim, nada mais que o trivial. Talvez por isso as realizações sejam sempre tão pequenas, tão inúteis.
_____Meus objetivos são reflexo da nossa realidade, não que esta seja sofrida ou angustiante, mas ela nós obriga a entender desde já o que podemos. Desejo poder. Poder possuir. Poder e possuir. Poder para possuir. Os obstinados sabem do que falo, os outros passarão por tudo isso despercebidos e com enfado.
_____A chuva parou, mas não sinto o cheiro da terra. Aqui a terra não cheira como doce caseiro ou algodão-doce de festa. Tudo agora é silencio porque o silencio é sempre tudo.
Maria Augusta

O Amor é o ridículo da vida


"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi"

Cazuza





Maria Augusta

quarta-feira, 15 de abril de 2009




Para Lá - Arnaldo Antunes

Se toda escada esconde
Uma rampa
Ampara o horizonte
Uma ponte
Para o oriente
Um olhar
Distante
Em volta de um assunto
Uma lente
Depois de cada luz
Um poente
Para cada ponto
Um olhar
Rente a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada
Diante do infinito
Um mosquito
Em torno de um contorno
Gigante
Cada eco leva
Uma voz
Adiante
Decanta em cada canto
Um instante
De dentro do segundo
Seguinte
Que só por um momento
Será
Antes
E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá

Parada

Parada




Maria Augusta

sexta-feira, 10 de abril de 2009









A minha alma é o túmulo profundo
Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos!



Florbela Espanca
Maria Augusta